sábado, setembro 02, 2006

Guerra de Nervos

A Mini, a Lambreta e o Paneleirinho como armas numa guerra psicológica

Para quem não sabe a Lambreta é nada mais, nada menos, que uma Imperial servida numa taça com, sensivelmente, metade da capacidade do copo normal. Já devem imaginar o rigor necessário para dominar a arte de bem 'tirar' uma Lambreta, sem que a espuma salte toda e essas coisas. Se já a Imperial exige uma certa mestria, no caso da Lambreta a margem para o erro é menor.

Neste arsenal a arma seguinte é o Paneleirinho. A melhor forma de explicar o que é será expô-lo da seguinte forma: Assim como está a Lambreta para a Imperial, está o Paneleirinho para o Panaché (não confundir com o ditador chileno). Ou seja é a derradeira arma nesta guerra de nervos, não só temos de dosear primorosamente a relação entre a gasosa e a cerveja como se mantêm todas as preocupações já inerentes à 'tiragem de uma Lambreta'.

Existe ainda a Mini (Mine), mini-cerveja, que, por seu lado, pode ser considerada uma arma convencional, vem em grandes lotes, uniformizada.

Não podemos considerar estas formas de beber cerveja como uma 'Minor League', ou uma alternativa aos Pirolitos dos fedelhos para quem quer acompanhar os homens crescidos mas tem pouco arcaboiço para a bebida. Estes pequnenos calibres são consumidos em quantidades astronomicas e são bem capazes de grandes estragos. Não se iludam!

Explicação para isto? Os puristas da Mini, tecnicistas na arte de emborcar cerveja, garantem que dado o tempo entre o saltar da carica e o fundo virado ao contrário ser menor, o líquido se mantém à temperatura ideal e com o nível de gás apropriado. Qual Tempura japonesa em que o peixe frito ainda dá ao rabo quando chega ao prato do cliente.

A minha explicação segue a corrente belicista. Existe entre nós um certo culto da esperteza saloia, e, pelintras como somos numa tasca de qualquer esquina ou colectividade, não gostamos de estar por baixo, nunca em último lugar. Ou não gostamos de sentir que estamos quando realmente o estamos, enfim... Voltemos à tasca. Certamente não queremos negociar e colocar à prova essa não-inferioridade com o resto dos latagões embriagados que lá estão a tentar também não ser o último da cadeia. Arriscamo-nos a levar umas quantas berlaitadas e umas mãozadas no pêlo.

O que nos resta é encetar uma guerra psicológica com o taberneiro, que sempre vai aparando os golpes e madurezas de nós, chicos-espertos, com uma certa resignação própria da cultura em que o cliente tem razão. Forçamo-lo a trabalhar o máximo possível para merecer os cobres que lhe pagamos pela bebida!

Temos então à nossa disposição um pequeno mas eficaz arsenal: a Mini, a Lambreta e o Paneleirinho (também conhecido por Cento e Vinte Cinco por ser essa a capacidade do copo onde é servido, e, lá está, dá-lhe um nome mais bélico como se tratasse do calibre). Nomes patuscos para armas que têm como alvo a moral e paciência de que tem de as aviar.

Consegue imaginar-se a carga de nervos com que uma pessoa deve ficar quando um bando de bebedolas decide interromper o Dominó e ir ao balcão pedir uma rodada de Paneleirinhos? E com os bigodes ainda cheios de espuma, antes de pousar a taça, já estão a pedir outro e a pensar no próximo. "Porque não pediram um Panaché, caraças!" - pensará o taberneiro - "Raios vos partam!" (claro que talvez exista um pouco mais de vernáculo nestes desabafos...).

Assim são capazes de passar um dia inteiro, há que estabilizar o corpo etilicamente, a bomba não pode desferrar-se pois deixará de funcionar. Fazê-lo por via de Paneleirinhos é um calvário diário para qualquer taberneiro.

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