sexta-feira, outubro 20, 2006

O Menu Mudou

Não, não vamos comer cabeça de porco

Bem sei que prometi Chilli Con Carne para o repasto desta noite, vamos ter chilli, sim, mas com outra coisa. Explico o sucedido.

Ontem quando entrei no talho para comprar a carninha dei de caras com um espectáculo que para o qual não estava preparado. E olhem que não sou lá muito impressionável. Há talvez duas coisas que me provocam agonia quando sugeridas: escarros e expectoração, de resto, bah...

Bem, talvez as penicadas cheias do meu irmão que tive de despejar quando era puto... Mas merda há-de enojar qualquer um! Talvez a coisa não seja assim tão absoluta, vendo bem não quero entrar por aí.

Voltando ao que importa, quando no talho pois que lá estava o carniceiro, todo entretido, a malhar na cabeça decepada de um porco, estava a desmanchá-la à porrada com um enorme cutelo. Com o golpe final, a enorme cabeçorra jazia em duas metades, cortada longitudinalmente, da ponta da penca à parte de trás da nuca. Foi quando decidi ir embora.

A coisa deixou-me mesmo desconfortável, sabem como é uma cabeça de um porco morto, continua rosada com um ar sorridente até. Parece que a morte não terá ali passado. Lembro-me de um talho junto à minha antiga escola secundária que exibia na montra uma cabeça de porco mascarada, de óculos escuros e chapéu. Ao lado os dois chispes, um deles com um relógio... Agora uma cabeça cortada ao meio é outra história, qual aula de anatomia suína.

Portanto a comezaina vai ser um Chilli com soja. Garanto que é muito bom.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Parangonas

Podemos congratular-nos com a recente proliferação de gazetas e pasquins, alguns deles gratuitos outros com aspirações a semanário de culto...


Não! São tão beras que assustam. O ponto positivo é que dão que escrever qualquer coisa aqui e ali.

Eu até era para estar sossegadinho, ontem estive em arrumações (isto de ter visitas tão ilustres faz-nos aprimorar as coisas) e não houve oportunidade de preparar nada para postar.

Aqui vão as parangonas que me movem hoje:


Bebem cada vez mais, fumam, trabalham, são independentes. Isto tudo pelo "desejo de serem iguais aos homens" Qualquer dia dão em fornicar. Espera! Mas já...

Shyz e FuckIt, esta deve ser do vosso apreço... Quem é que deixa a pena nas mãos desta gente?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Visões

Estranha visão a que eu tive no comboio. Entrou um chinoca com um ar esbaforido, na Amadora ou Queluz, não sei bem. O caricato é que ele estava fardado com uniforme do exército.

Será a Coreia do Norte? Pensamento estúpido...

Bizarro, o mancebo é tão português quanto eu, para fazer tropa... Bem, eu cá safei-me. Não por ter o pé chato, ser caneja, marreco, coxo, zarolho, completamente imbecil ou daltónico mas sim por fezada. Reserva territorial, pode ser que ainda me chamem. Apre!

Ah! Não tenho nenhuma das maleitas acima referidas, talvez à parte de alguma dose de imbecilidade pontual (espero).

Chuva

Não sou um tipo para usar guarda-chuva, não tenho um sequer. E o que acontece a tipos como eu quando chove e têm de andar na rua? Está tudo dito.


E o que choveu esta noite...

O Empreendimento Continua

Ora aqui vamos, mais um bocadinho. Vou postando as cenas ainda sem revisão e não pela ordem final.

Hei-de explicar melhor a coisa mas isto não é uma peça acabada, existe um monte de fragmentos e, pelo menos, duas versões de trabalho. Esta poderá ser, sob algumas interpretações a primeira cena do primeiro acto. Eu cá ainda não decidi...


Woyzeck barbeia Capitão
Casa do Capitão


CAPITÃO: Calma, Woyzeck, calma, uma coisa de cada vez. Estás a pôr-me tonto. Que hei-de eu fazer com os dez minutos que me vais poupar? Imagina só, Woyzeck, ainda tens uns bons trinta anos para viver, trinta anos! São 360 meses. E dias, horas, minutos. O que vais tu fazer com esse tempo todo? Não te apresses, Woyzeck.

WOYZECK: Sim, meu capitão.

CAPITÃO: Eu preocupo-me com o mundo quando penso na eternidade. Mantem-te ocupado, Woyzeck, mantêm-te ocupado. É para sempre, para sempre! Consegues compreender isto, não consegues? E mais uma vez não é eternidade mas apenas um momento fugaz, sim, um momento fugaz, Woyzeck. Sinto um arrepio quando penso que o mundo dá uma volta completa sobre si mesmo num só dia! Que perda de tempo! Onde irá isto tudo parar? Basta-me olhar a roda do moinho para ficar melancólico.

WOYZECK: Sim, meu capitão.

CAPITÃO: Woyzeck, pareces tão perturbado. Um homem decente não se parece tal, um homem decente de consciência tranquila... Conta-me coisas, Woyzeck! Que tempo vamos ter hoje?

WOYZECK: Mau, meu capitão, ventoso.

CAPITÃO: Pressinto-o. Está um reboliço lá fora! O vento tem o mesmo efeito em mim que tem o rato. Suponho que seja de Sul-Nordeste?

WOYZECK: Sim, meu capitão.

CAPITÃO: Hahahaha. Sul-Nordeste! Oh que és tão estúpido, horrivelmente estúpido. Woyzeck, tu és um homem decente mas não tens moralidade. Moralidade, entendes-me? É uma boa palavra. Tens uma criança sem a bênção da Igreja, como o nosso senhor prior disse, sem a bênção da Igreja. Não sou eu quem o diz.

WOYZECK: Meu capitão, Deus nosso senhor não terá em mais boas graças o pequeno bacorinho só porque não se terá dito Amem antes de ter sido feito. O Senhor disse 'sofram as criancinhas para que venham até mim'.

CAPITÃO: O que dizes? Que raio de estranha resposta é essa? Ele deixa-me deveras confuso com as suas respostas. Não quero dizer Ele, quero dizer tu, Woyzeck.

WOYZECK: Nós somos gente pobre, vê, meu capitão, é dinheiro. É dinheiro, quando não se tem nenhum. Não se pode colocar no mundo um tipo como eu apenas com a moralidade, um homem também é feito de carne e osso. Esses, como nós, excomungados deste mundo e do próximo. Só posso esperar quando chegarmos ao paraíso que sejamos colocados a ajudar com as trovoadas.

CAPITÃO: Woyzeck, não és detentor de virtude nenhuma. Não é um homem de virtude. Carne e osso? Quando estou à janela depois de uma chuvada e vejo meias brancas a saltitar pela rua, bolas Woyzeck, eu sinto o amor! Também eu sou carne e osso. Mas Woyzeck, a virtude, virtude! Como hei-de eu ocupar o meu tempo? Mas digo para comigo 'És um homem de virtude, um homem decente, um homem decente'.

WOYZECK: Sim, meu capitão, virtude. Não tenho esse problema. Nós, as pessoas comuns, não temos nenhuma virtude, apenas respeitamos as nossas naturezas. Mas se eu fosse um cavalheiro e tivesse um relógio e um longo sobretudo e fosse bem-falante aí sim, gostaria de ser um homem de virtude. Deve ser bom ter virtude, meu capitão, mas sou um homem pobre.

CAPITÃO: Bem, Woyzeck, tu és um homem decente, um homem decente. Mas pensas demasiado. Isso consome-te. Pareces tão perturbado. Esta nossa discussão deixou-me bastante aborrecido. Agora vai-te, segue calmamente rua abaixo.

terça-feira, outubro 17, 2006

Ingénuo Empreendimento

Este é o meu ingénuo empreendimento, penso que não existe edição em português. Aqui vou postando os seus avanços.

Senhores, de Georg Büchner

Woyzeck: a Peça

Numa série de pequenas cenas, Büchner dá-nos a conhecer a história de Franz Woyzeck, um soldado raso. Woyzeck não é brilhante mas é suficientemente inteligente para saber que está a ser esmagado pela sua própria vida.

Esta não lhe proporciona auto-estima, reconhecimento ou qualquer forma de fuga da luta diária pela sobrevivência ou da pobreza e perdição da sua condição. Vemo-lo juntar varas com uma camarada, Andres, embebedar-se na taberna, barbear o seu Capitão (que o rebaixa impiedosamente). Comportar-se como um macaquinho amestrado enquanto o médico da companhia, um palerma da alta sociedade, o obriga a entreter os seus estudantes de medicina com truques tal como abanar as orelhas.

Ele tem alucinações, surgem-lhe aparições e sente-se enlouquecer. A única fonte de conforto na sua vida é a sua amante Marie e o seu inocente bebé. Mas Marie é-lhe infiel e os seus companheiros de bebida contam-lhe que ela o engana com o desmiolado mas bem-parecido Chefe da Banda da Companhia, com quem ambos se tinham encontrado na feira.

Woyzeck luta com o Chefe da Banda e perde. Ele pensa no suicídio, compra uma faca. Antes marca um encontro com Marie no bosque, junto ao lago. A frieza da sua companheira fá-lo explodir assassinando-a.

A peça tal como apresentada - não necessariamente como Büchner a planeara - termina com Woyzeck a aparecer na taberna coberto de sangue, voltando depois ao lago para fazer desaparecer a faca, lançá-la às águas. Vai entrando no lago, cada vez mais fundo, até acabar a acção.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Afinidades

Winston Churchill terá alegadamente dito, em jeito de confidência, que os cães nos adoram, os gatos nos desprezam e os porcos, muito simplesmente, nos tratam como pares.

Faz particularmente sentido vindo de alguém com a sua figura...