sábado, outubro 14, 2006

Hey! ...eu sei que andam aí. E comentar, mandar umas bocas, seus Peeping Toms?

Cromos Avulsos

Ver bons amigos que estão longe há algum tempo traz uns tremeliques e abanicos cá por dentro. Ajuda-nos a reparar em qualquer coisa ainda que desconexa. Aliás, pensando bem até conseguiria reconstruir a tortuosa e aparentemente disparatada linha de pensamento que me levou a estas últimas notícias de por baixo do manto, mas não interessa.

Há uns tempos li uma entrevista com o Tom Waits em que ele falava da sua infância. Cresceu numa pequena cidade e conta que praticamente só lá existia um exemplar de cada tipo de pessoas. Um sapateiro, um taxista, um bar, um polícia, um bêbedo, um louco, uma puta...

Sem querer fazer qualquer analogia entre este tipos e os cromos da minha vida, julgo que as minhas relações funcionam da mesma forma. Tenho um amigo deste tipo, outro daquele, uma amiga assim, outra assado... São poucos e de género único, assim como o tipo de relação que tenho com eles, não há duplicados nem sobressalentes. Um denominador comum: cromos (já o disse), mas cromos avulso, como aqueles negociados pelos coleccionadores sinistros que tinham banca no rossio. Cheguei a lá ir comprar a meia dúzia que me faltava na colecção que teimava em não sair.

Obrigado pelo presunto, gostei muito de vos ver, O. e M. Temos de fazer isto mais vezes.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Cadinho Infernal

É ainda com um pingo no nariz que relato este episódio.


No Sábado passado fiz uma excursão ao Martim Moniz, fui às compras. Arranjei uma série de chinesices de que andava à procura, ingredientes para culinária, essencialmente. Um desses artigos de mercearia foi uma embalagem de caril verde.

Hoje decidi testar a fórmula num caril improvisado de legumes e marisco. A embalagem trazia algumas indicações para a preparação, quantidade sugerida, etc... Achei por bem que para um principiante não deveria abusar na quantidade. Na embalagem estava indicado o uso de 50g do preparado, usei uma colher de sopa.

Com a primeira prova surge o choque, que porra de picante! Percebi imediatamente que o cozinhado não estava comestível para um comum mortal. O caril enunciou-se com grande brutalidade, com uma violência desnecessária, diria.

Tentei recuperar a tachada com um truque que uma cara amiga uma vez me mostrou, introduzir uma batata inteira com casca no tacho. Supostamente a batata, especialmente por descascar, absorve o picante, reduzindo a concentração, tornando o rancho comestível.

Posso atestar que funciona realmente em certo grau, o cadinho do inferno acabou por se deixar comer. Claro que foi precisa muita convicção e arroz branco. Cervejola também ajudou a controlar a queimada, só tinha uma. Mais houvesse que seriam consumidas.

Tenho uma certa apreensão em ter colocado o que sobrou numa caixa de plástico, estou de olho durante as próximas horas não vá derreter...

Vocabulário Onomástico

Tenho andado a divertir-me perdidamente com um livrinho de grande utilidade emprestado pela minha querida mãezinha. Trata-se do Prontuário Ortográfico e guia da língua portuguesa da Notícias Editorial.

Edição curiosa por um dos autores se dar pelo altamente lusitano nome de Magnus Bergström. O senhor sabe muito mais da matéria do que eu, com certeza, alguma vez almejarei saber, livrem-me de contestar uma coisa dessas apenas pelo nome! Achei caricato, é só.

A Secção que mais gozo me dá e a do Vocabulário Onomástico (vulgo substantivos pessoais). Quem queira dar nome a uma criança não deverá fazê-lo sem que primeiro se sirva desta ferramenta formidável. Arriscar-se-ia a perder a oportunidade de baptizar o pobre bastardo, ou pelo menos de não considerar a hipótese, com alguma das pérolas que de seguida transcrevo. Sem grandes critérios aqui vai:

Abúndio; Adeltrudes; Alarico; Aldegundo; Amâncio ou Amândio (a parelha alentejana); Anfícrates; Bernardo (só por ser nome de pila); Bonifácio; Borromeu; Brederode; Brunilde; Cacilda; Carmolindo; Crescência; Cunegundes; Donzília; Ermelinda; Eufrónio; Eufrosina; Felissíssimo; Formosinho; Fredegundo; Gualdomero; Gurmesindo; Hirondina; Ilsolinda; Jazelina; Libório; Mirandolino; Natércia; Octacílio; Organtina; Outubrino; Pigmalião; Porciúncula; Putífar; Quirísofo; Radamanto; Sardanapalo; Savonarola; Sinfrónio; Teodolinda; Ulpiano; Vercingetorige (sim, soletrei uma cinco vezes); Xafredo; Zebedeu; Zenóbio

Para além das boas gargalhadas proporcionadas pela leitura desta secção com amigos num qualquer serão regado com qualquer bebida alcoólica, também se pode aprender coisas como o colectivo geral para vadios, que é uma farândola. Ou ainda que o pronome pessoal clítico é colocado na posição medial se, não havendo a possibilidade da sua colocação pré-verbal, o verbo se apresentar no futuro do indicativo ou no condicional.

terça-feira, outubro 10, 2006

Formalidades

Reparei ao ler alguns posts meus mais antigos que o nível de linguagem por estas bandas desceu consideravelmente.

Isto reflecte bastante bem uma certa faceta da minha personalidade que tenho vindo a notar. Quando chego venho muito formal, demasiado formal. Com uma solenidade quase presidencial.

Certa vez, em miúdo, tive de ligar para o emprego do meu pai. Uma colega que me atendeu fez a piada de lhe passar a chamada anunciando "é o Sr. Presidente para ti."

Já noutra ocasião recente uma boa amiga me chamou à atenção num restaurante, depois de fazer o pedido, que era muito difícil sacar-me um sorriso... a seriedade, novamente.

Parece ser esta a defesa para a minha timidez, coloco uma capa de cerimónia para que as coisas me corram de forma ordeira, organizada, sem que me toquem.Claro que passada a fase do traje de gala extravaso, todo eu sou volteios e pinotes, dou traques e rebolo pelas carpetes fora. Escárnio e maledicência saltam-me como ventarolas.

Mas antes de lá chegar...

O Meu Lábio Superior

Quando é que pêlos entre o nariz e o lábio superior se tornam num bigode? Um bigode é tecnicamente um bigode existindo barba no resto do rosto de uma forma contígua à barba acima do lábio superior? Se isto é verdade eu tinha, até antes de ontem, uma dessas coisas.

Quase desde que tenho algum pêlo que se veja na venta que é muito mais o tempo que passo a usar uma barba inteira do que uma cara barbeada. Por vezes corto a barba mas tenho achado o processo tão penoso que normalmente esse estado só dura os três ou quatro dias que leva a que a face volte a estar capilarmente repleta de novo. Depois mais alguns meses de pêlo a sério.

Ultimamente arranjei um novo método que afastou ainda por mais tempo as lâminas do meu rosto tenro. Uma máquina de cortar cabelo. Tenho-me limitado a aparar a pilosidade quando esta atinge um estado demasiado selvagem e lanudo.

É certo que sempre usei lâminas de qualidade duvidosa e só desta vez, que decidi largar os cordões à bolsa, comprei uma como deve ser. Estupidamente cara, em minha opinião, para o serviço. E sempre embirrei com a publicidade em que gajos se barbeiam à bruta com um sorriso nos lábios sem qualquer desconforto.

No mundo real um desprendimento desses só levaria a sacar grandes bifes sangrentos daquelas carinhas larocas. Logo os dentes se veriam, sorridentes, por onde dantes se encontravam as bochechas...

Mas tenho de oferecer a mão à palmatória, esta Super-Lâmina 8X Ultra Mach é muito mais confortável do que eu esperava. Acabei por cortar a barba quase toda, apenas restam uns três aglomerados de pêlo organizados de uma forma ordeira e mais ou menos harmoniosa (espero eu). Nenhum deles é bigode, atenção!

Já passei pelo teste da minha colega Kat das verduras sem que esta tenha gozado muito comigo. E sabe quem a conhece que é implacável, derruba qualquer um sem dó nem piedade uma e outra vez sem parar de repisar. Não deve estar mal.

Da minha parte redescobri, principalmente, o meu lábio superior que só agora me apercebi que não via em condições há bastante tempo. O resto da cara cá está, parece-me menos pueril do que da última vez que a observei. Pode ser alucinação minha, com esta coisa de arranjar casa posso estar a tentar vislumbrar o rosto de um homem mais ou menos crescido onde dantes estava o de um puto tarão...

segunda-feira, outubro 09, 2006

A Sinfonia da Foda

Será a isto que se refere o meu caro amigo Dr. Traktor com a sua Sinfonia da Foda?

Não creio...

Mas para que raio é que alguém precisa de uma coisa destas? É idiota. Nada como trautear qualquer coisinha, tem mais valor mesmo que se seja um(a) cantor(a) horrendo(a).

AC/DC Meets Lcd Soundsystem

Já todos nós sabemos que o fenómeno da música é uma coisa cíclica, que o que esteve na berra há 30 anos acaba por regressar numa qualquer onda recauchutada ou reciclada. Aliás vemos o mesmo acontecer na moda e noutras artes e artesanatos. A música sempre andou a par e passo com a moda, é de ver.

Uma coisa mais curiosa é que, mesmo separado por bastante tempo, surgirem fraseados muito semelhantes em músicas que não têm relação nenhuma. Plágio ou recauchutagem em muitas situações mas também obra do acaso. Penso que é esta última a situação que aqui exponho.

Sou só eu a ver a semelhança entre o tema TNT dos velhotes e esganiçados AC/DC e o Daft Punk Is Playing At My House dos Lcd Soundsystem? Aqui ficam ambos para vosso julgamento:



Hei-de fazer um mixzinho para quem não nota a semelhança.

PS: Não parece que este senhor urinou as calças?

Trabalho Penoso

Muito Bem! Estou contente comigo. Já tenho uma mesa decente e bancos para belas refeições. Arranjei um candeeiro de sala para uma iluminação mais apropriada. Já posso também ler no quarto pois tenho um candeeiro de cabeceira propício à actividade.

Agora merda foi montar a dita mesa! Estava eu convencido de que a maldita vinha desmontada mas com todas as peças parafusos e encaixes bem como uma chave apropriada tal como é hábito nos artigos IKEA.

Estas não, todos os parafusos eram do tipo Phillips. O meu calvário começou aqui. Eu não tenho nenhuma chave desse tipo em condições, a única que detenho está completamente moída e não serve para nada.

Dei voltas e mais voltas à minha reles caixa de ferramentas e a alternativa que me surgiu foi um velho busca-pólos que era suficientemente estreito para caber na cabeça de parafuso Phillips mesmo sendo de fenda. O cabo desta porcaria é do piorzinho, não foi feito para apertar parafusos, muito menos parafusos de madeira que necessitam ainda de alguma força.

Após dois ou três apertos já me saltavam bolhas dos dedos (e eu tenho umas mãos preciosas). Estive para desistir... até que se fez luz na minha cabecita cansada: sabão! Aplicar sabão nas roscas dos parafusos alivia muito significativamente o esforço de os aparafusar até ao ponto pretendido.

Como noutras coisas na vida uma lubrificação apropriada é a chave para resultados aprazíveis.

O Meu Jantar #2

Sou um bocado vaidoso e quando faço alguma coisa que considero bem feita, não me coíbo de a propagandear. Sou um cagão...

Não me apetecia cozinhar, já tinha sopa no frigorífico e decidi fazer apenas um pequeno snack. Boa ideia para aproveitar pão que já não seja fresco fiz uma adaptação minha das Bruschettas italianas, Crostinis ou lá como lhe chamam.


Caíram muito bem com uma garrafita de Sagres Preta. Talvez tenha carregado um pouco no alho, mas também não espero ter visitas hoje, pelo menos não à distância de um bafo.

Customer 'Dare'

Um destes dias Houve por aqui no emprego uma acção de formação sobre atendimento ao cliente e gestão de conflitos. Estava mortinho para que não fosse convocado. Cheio de outras coisas para resolver, só me iria fazer perder tempo.

Não quero saber que entoação hei-de dar à voz quando aturo um cliente atrasado mental com uma reclamação idiota do outro lado da linha. Não faz sequer parte das minhas funções. E se tiver, em algum caso, de levar com uma estopada dessas já tenho a lição estudada.

O senhor Ignatius J. Reilly resume muito bem a atitude a tomar nesses casos nesta carta que aqui transcrevo. Trata-se da resposta a uma reclamação de um cliente que recebeu da fábrica onde o senhor Reilly exercia funções. Aparentemente a Abelman's Dry Goods recebeu um lote de calças cujas pernas teriam apenas 50cm.

Abelman's Dry Goods
Kansas City, Missouri
USA

Ex.mo Sr. Abelman (Mongolóide):

Recebemos pelo correio os seus absurdos comentários acerca das nossas calças, os quais revelam a sua total ausência de contacto com a realidade. Se estivesse mais atento, saberia ou ter-se-ia apercebido de que as calças em questão lhe foram enviadas com o nosso conhecimento cabal de que o comprimento no era o adequado.

«Porquê? Porquê?», perguntará o senhor, no seu balbuciar incompreensível, incapaz de assimilar conceitos comerciais estimulantes devido à sua vista do mundo atrasada e frustrante.

As calças foram-lhe enviadas (1) para pôr à prova o seu espírito de iniciativa (uma empresa inteligente e de horizonte largo deveria ser capaz de transformar as calças a três quartos no último grito da moda masculina; os seus programas de publicidade e de tácticas de comercialização são, obviamente, deficientes) e (2) para testar a sua capacidade de preencher os requisitos de distribuição do nosso produto de qualidade (os canais de escoamento que nos são fiéis e que confiam em nós conseguem vender todas as calças que tenham a etiqueta Levy, por quito abominável que seja o corte e a confecção; aparentemente, o senhor é uma pessoa sem fé.

Futuramente, não queremos ser incomodados com reclamações tão enfadonhas. Por favor, limite a sua correspondência connosco apenas às encomendas. Somos uma empresa activa e dinâmica, em que a insolência desnecessária e o incómodo só servem para estorvar a nossa missão. Se Voltar a molestar-nos, senhor, pode vir a sentir o gosto amargo da nossa Vingança.

De V. Ex.ª
Furiosamente.

Gus Levy
(Presidente)

Excerto de Uma Conspiração de Estúpidos de John Kennedy Toole.