Puseram Grades Sobre os Precipícios*
Falemos muito claramente de suicídio e de eutanásia sob a forma voluntária, que discussão haverá necessidade de existir nestes casos?
Piergiorgio Welby, italiano de 60 anos, veio, através de um vídeo difundido na TV com uma missiva dirigida ao presidente italiano, pedir o seu corpo de volta, quer a eutanásia.
Welby diz que o seu corpo já não é seu, mas digo eu que não foi a distrofia muscular, diagnosticada na adolescência, que lho roubou. Rouba-lho quem não o deixa morrer agora, como deseja.
O que será que tanto assusta estados e religiões no facto de sermos nós os detentores da nossa vida e donos dos nossos corpos? A igreja excomunga-nos enquanto as autoridades nos controlam, proibindo em casos como o de Welby.
Qual é o fundamento para que se tente ou impeça alguém de terminar a própria vida quando assim decidir, e por quaisquer motivos que encontre? E como discutir o 'direito à vida' sem tocar no direito à morte?
A forma como este italiano exprime a sua vontade é tocante e mostra-nos a injustiça da vida. Não da vida biológica que é dura, absurda, mas sim da vida que é vivida de acordo com sistemas regulados vai lá entender-se porquê.
Não pude deixar de pensar nesta questão sem a relacionar, em certa medida, com a nossa discussãozinha nacional. No que é que um individuo adulto, plenamente informado e consciente, pode ser impedido de fazer como seu corpo? E porque não poderá ser assistido por quem detém o conhecimento técnico apropriado para fazê-lo?
Puseram grades sobre os precipícios, permitir-me-ão a *citação descontextualizada de Sá-Carneiro, espero...
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